26/03/2015

A Vila Brandão e o cavalo de Troia

Parece um presente dos Deuses – a comunidade Vila Brandão, localizada na encosta da Vitória, foi procurada pelos seus vizinhos poderosos para receber benfeitorias maravilhosas:
Um campinho de futebol digno, uma escada que desce até o mar, um dia das crianças com presentes, churrasco, bingo e festa para todos!

(fotos © ASCOMVIBRA / facebook/vilabrandão)


Tudo beleza, questão de responsabilidade social, um projeto de integração entre os bairros nobres e a ultima comunidade no meio…  o tem algo atrás dessa benfeitoria, que não seja visível no primeiro momento?

O Iate Clube tomou a frente. Se mostrou generoso, dessa vez, vindo com presentes e palavras doces. Veio para negociar uma “benfeitoria” á comunidade, afirmando no mesmo momento de ser o dono legítimo de toda essa zona verde na encosta da Vitoria, localizada ao redor, no baixo da Vila Brandão, na frente ao mar.

Se trata de uma zona verde de aprox. 4500 m2, onde tem um campinho de bambu, que sempre foi na posse da comunidade – o único lugar de lazer para as pessoas morando em casas pequenos, em becos estreitos, sem ventilação. É uma área onde os jovens da comunidade troquem os primeiros beijos e os meninos vão para “esfriar a cabeça…”, é lá onde vive uma multidão de pássaros, onde as plantas sagradas do Candomblé tem espaço para se multiplicarem.
E, sobre tudo, se trata de um pequena praia (grande parte da costa já foi invadida e privatizada pelo Iate Clube nos últimos 10 – 15 anos). Essa praia é a última praia publica da Vitória, oferecendo uma piscina natural para mergulho, um aquário cheio de peixes de todas as cores, espécies protegidas, corais… 
O Iate Clube gostaria ter um quebra-mar para criar mais vagas molhadas para os barcos deles. É a praia dos pescadores da Vila Brandão, é o lugar de lazer das famílias nos domingos, é o mar – um lugar para todos que gostam de um pouco de paz.



O Iate Clube estava com muita pressa para começar as obras de benfeitoria. A ASCOMVIBRA, associação de moradores criada recentemente, não aceitou nenhuma opinião contraria á construção do campinho.
E assim, o Iate Clube começou com as obras no inicio do mês de março, colocando tubos grossos do largo da Vitória até a comunidade, para descer o material de construção. Os tubos passaram na escada, dificultando ainda mais a descida íngreme, numa escadaria quebrada, irregular e estreita. Chegou muito material; vieram engenheiros, trabalhadores, limparam o campinho, mediram…  aprontaram o trabalho.
 


Rápido, no primeiro dia, eles fecharam com uma cerca alta de maderite uma obra que já foi embargada há anos, uma área de cimento que era de uso da comunidade, na beira do mar.  Agora, o acesso esta fechado pelos moradores.


No campinho de bambu, já tinha uma vez uma praçinha com brinquedos, oferecida por um prefeito á comunidade. Já tinha uma escada para descer lá, construído pela comunidade com o apoio dos vizinhos da casa Amarela.
Isso tudo foi destruído pelos homens do Iate Clube, há um 7 anos, que chegaram armados para tirar o brinquedo e jogar ele no mar.

E agora? Eles mudaram de idéia? Começaram de gostar da comunidade?

O presente oferecido é um cavalo de Troia: lindo, bonito, brilhante… com a bomba para estourar apenas aceito.
O Iate Clube ofereceu um contrato de comodato para o uso do campinho, de 1000 m2 a ––– Paróquia da Vitoria! Uma esquadra de esporte multifuncional, moderna, de concreto… no lugar do campinho de bambu, de posse da comunidade. O padre será o responsável do projeto.
E a associação ASCOMVIBRA, que se diz representante da comunidade, não assinou nada – dizem eles – mas pretendem que vão receber tudo! Acreditam que o campinho será da comunidade, em uso temporário. Um contrato de 25 anos (com clausulas que ninguém conhece) entre a Paróquia e o Iate Clube. Detalhe interessante: a chave do campinho fica na mão do padre. Depois desse prazo, acabou o acesso da comunidade ao campinho.
A ASCOMVIBRA aceita a tomada de posse da praia e de toda a zona verde, uma aérea de 4.000 m2 pelo Iate Clube em “contrapartida” da quadra poliesportiva. O Clube pretende construir estaleiros de 3 andares nessa ultima zona verde publica da Vitoria. E fechar tudo com um muro para impedir o acesso dos moradores. E o acesso ao mar, a praia no futuro… fica nas nuvens!
Toda a ação é completamente intransparente – a tal ponto que, a semana retrasada, foi chamada a Ouvidoria Publica do Estado da Bahia para investigar em pro da comunidade.
Eles vieram no local – e decidiram de convidar todas as partes interessadas numa audiência publica – dia 27.03.2015.
Foram convidados o Iate Clube, a Paróquia da Vitória, o prédio Wildenberg, a ASCOMVIBRA e todos os moradores e vizinhos interessados. Foi convidado também um representante da Prefeitura, o coordenador do programa Ouvindo Nosso Bairro, que já se comprometeu de realizar as melhorias necessárias para a comunidade.
O prédio Wildenberg, também, no processo do alvará de construção, foi obrigado de oferecer uma contrapartida social a comunidade.



A penas chegou o convite da Ouvidoria, o Iate Clube parou as obras. Retirou os tubos, tirou o material de construção do campinho, desfez todas as traças. Os trabalhadores sumiram de novo no território cercado do Clube.
Algumas pessoas da comunidade ficaram revoltadas com os moradores que apresentaram argumentos contra o projeto do campinho e defenderam outros caminhos, um clima de agressão se criou!
Acabou o sonho do grande presente?
O cavalo de Tróia ainda esta esperando o momento dele…

Informações detalhadas:
Responsável pela edição: Silvia Jura – Célia Mara  
Tel: +71-9390-6947